RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: FUNDAMENTO PARA UM APRENDIZADO CRISTÃO COERENTE COM A ORTO-PRÁXIS
Cristiane Tenório Pereira *
RESUMO
O presente trabalho relata a relevância do relacionamento professor – aluno, considerando o fato de que a aprendizagem será sempre uma mudança no pensar, sentir e agir. Decorre da aceitação e valorização do aluno pelo professor e vice-versa, o êxito no processo ensino-aprendizagem. Fatores psicológicos e relacionais no ensino bíblico, desencadeiam nas transformações necessárias à coerência entre o comportamento cristão e a orto-práxis.
PALAVRAS CHAVE:
Relação professor-aluno, fundamento, aprendizado, orto-práxis.
ABSTRACT
The present work tells to the relevance of the realtionship professor-pupil, considering the fact of that the learning will be always a change in thinking, feeling and to act. It elapses of the pupil for the acceptance and valuation of the pupil for the professor and vice versa, the success in the process teach-learning. Psychological and relationary factors in Biblical education, unchain in the necessary transformations to the coherence between the Christian behavior and the orthodoxy-práxis.
KEYWORDS:
Relation professor-pupil, bedding, learning, orthodoxy-práxis.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho propõe-se apresentar a importância prática e didática de um relacionamento saudável entre professor-aluno, enfatizando o mesmo como facilitador da aprendizagem. Discorre também sobre posturas não recomendáveis na prática docente, que dificultam e até mesmo tornam infrutíferas os objetivos propostos.
Relata-se as características de um ensino bíblico de qualidade, que visa a transformação integral do ser humano, ou seja, mudanças de pensamentos, comportamentos e sentimentos, adequados aos princípios bíblicos universais.
Enfatiza-se com veemência a importância da pessoa do professor cristão no processo de transformação do homem natural em espiritual, até alcançar a imagem de Cristo formado em seu caráter e expresso na comunidade na qual está inserido.
A práxis educativa revela a necessidade de se adquirir uma visão holística do ser humano enquanto aprendiz, independente do conteúdo a ser ministrado. Ao nos referimos a uma visão holística de ser humano, estamos nos referindo a um todo integrado e interativo, conceito defendido por Friesen em sua obra Cuidando do Ser – p.23.
Em se tratando de conteúdos bíblicos, tal necessidade é ampliada considerando o fato do professor ser necessariamente considerado um “referencial de vida”. Seu ensino deve condizer com suas práticas cotidianas manifestas na sociedade.
Na prática pedagógica não existe aprendizado sem comunicação. Cabe ao professor saber relacionar-se psicologicamente com a turma. Compreendendo a necessidade de se ter uma visão coerente de todas as dimensões que compõem este ser, em especial de seu aluno de E.B.D.
Assumir tal postura na educação bíblica e teológica nos proporciona compreender tais dimensões que afetam naturalmente a vida do educando, sua interdependência e interferência natural na expressão social.
Possibilita-nos ainda um relacionamento cristão amoroso e eficaz, voltado não para uma educação bancária, mas construtivista, ainda que aquela seja atualmente, largamente aplicada nos púlpitos de nossas igrejas, ou em classes de escola bíblica.
Tuler (2006:106) orienta-nos a conhecer o potencial da turma a qual estamos ensinando, segundo ele
“conhecer a realidade do aluno é indispensável a qualquer professor que tenha por principal meta a eficácia e a produtividade do seu ensino. Saber o nome completo e onde o aluno mora é apenas o início de uma sondagem que deverá aprofundar-se à medida que o professor conquista a confiança e o privilégio de ser para o educando muito mais que um mero instrutor – um educador”.
A realidade do aluno abarca os principais aspectos e setores de sua vida, e estas influem em graus diferenciados, na atitude de aprendizagem dos alunos em relação ao conteúdo ministrado.
O professor cristão deve procurar não apenas conhecer seu aluno, mas também conhecer-se a si mesmo, suas potencialidades e limites, pontos fracos e fortes. Desta forma, analisará com graça os limites dos alunos, bem como suas necessidades mais gritantes, até mesmo na revisão de conteúdos que foram ministrados à bem pouco tempo.
O relacionamento cristão saudável, passa necessariamente pela prática do perdão. Sendo este, uma decisão da vontade, as emoções do professor devem ser controladas de maneira que suas reações a determinadas circunstâncias constrangedoras criadas pelos alunos, sejam adaptadas às decisões racionais e bíblicas.
Entendemos que o saber falar e saber calar, são indispensáveis no relacionamento cristão, visto que no meio eclesial e na sociedade em geral existem muitas pessoas difíceis de relacionamento. Todavia, estas se tornam um desafio à espiritualidade do professor que deve buscar em Deus os recursos necessários para demonstrar amabilidade com todos os alunos.Real (2003:76) retrata bem estas pessoas difíceis, chamando-as de especiais
A pessoa especial é aquela que não mais acredita em mudança, que age e reage de modo condicionado e previsível. É uma pessoa intolerante e radical, que não percebe a necessidade de transformar-se, que possui um temperamento forte. Muitas vezes legalista. Há muitas pessoas especiais em nossa esfera de contatos. Deus deseja abençoá-las por nosso intermédio e conduzi-las ao processo de aprimoramento pelo qual crescerão rumo à semelhança com Cristo.
Necessitamos como docentes cristãos evitar a grosseria dissimulada em palavras suaves, bem como a tendência à ira presente nas palavras sinceras e verdadeiras. O amor é o elemento pacificador das relações e deve ser expresso em nossas colocações verbais frente às pessoas especiais.
O discurso do docente cristão deve refletir necessariamente seu estilo de vida pessoal, pois não há autoridade no ensino bíblico se a prática cotidiana não refletir coerência com as expressões verbais de ensino e admoestações bíblicas com a pratica cotidiana em sociedade, ou seja, coerência entre ensino e orto-práxis.
Neste contexto o relacionamento professor-aluno, torna-se necessariamente um referencial de EXEMPLO das verdades fundamentais do Cristianismo. Assim como um pai deve ao seu filho exemplo, exemplo e exemplo!!
Considerando os motivos conscientes da aprendizagem, estes nem sempre correspondem aos motivos mais profundos de nossa alma. O aluno interessado vive na busca constante do novo, e é motivado a aprender quando percebe que o professor sempre procura melhorar o seu desempenho em sala de aula. A vontade de aprender deve ser despertada no aluno, ou no mínimo deve-se estimular o crescimento espiritual via fundamentação bíblica.
Tuler (2002:180) defende que “se não houver uma boa comunicação em sala de aula, não haverá também um aprendizado saudável, e isto é preocupante, principalmente quando nos referimos ao ensino bíblico”.
O bom aprendizado não é aquele que se baseia apenas em retenção de conhecimentos, mas na habilidade de aplicá-los à vida cotidiana. Desta forma, o respeito mútuo, a cooperação e todas as virtudes relacionadas à moral cristã, devem ser vivenciados, na medida do possível em sala de aula e/ou no contexto eclesial.
Abordando a visão holística que o professor deve ter em relação aos alunos, Morris citado por LeFever (1995:9) apresenta a diversidade existente no processo de ensino-aprendizagem: “Algumas pessoas aprendem ouvindo e partilhando idéias, outras aprendem analisando o que ouviram. Há aquelas que aprendem testando teorias e, ainda outras que aprendem sintetizando conteúdo e contexto”.
Considerando tal diversidade na aprendizagem, o professor deve estar ciente de que o aluno espera que o mesmo seja capaz de ensinar o conhecimento de Deus de forma plausível, clara, coerente e concisa, que venha corresponder às necessidades espirituais, morais e intelectuais do ser humano.
Na observação das características pessoais de cada educando, deve-se considerar os níveis de aprendizagens intrínsecos a cada indivíduo e dar uma assistência especial àqueles que caminham mais devagar no processo de aprendizagem que é contínuo e sistemático.
O apóstolo Paulo entendeu bem isso quando reescreve os mesmos conceitos e verdades para os irmãos de Filipos, ele enfatiza “a mim não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas” (Fp.3:1b).
O contexto bíblico deixa claro a ênfase que o apóstolo dá a alegria cristã, repetindo-a várias vezes em sua carta aos Filipenses. Por semelhante modo, o professor bíblico necessitará utilizar-se dos recursos dialéticos do ir e vir em dados assuntos pertinentes e necessários à vida cristã normal. Escrevendo sobre o processo natural de aprendizagem eficaz, LeFever argumenta
1) Aprendizes começam com o que já conhecem, interessam-se, ou necessitam. O que aconteceu antes deve fornecer subsídios para o que virá agora. O verdadeiro aprendizado não pode acontecer no vazio;
2) Esta conexão com a vida real os prepara para o próximo passo – aprender algo novo;
3) No terceiro passo, os aprendizes aplicam o novo conteúdo experimentando como ele funciona na vida real;
4) O último passo requer que os aprendizes utilizem criativamente fora da sala de aula o que aprenderam. Este passo final orienta os alunos em sua vida diária, fora do espaço da igreja.
Como fora acima citado, o professor deve procurar corresponder às expectativas dos alunos, mostrando-lhes o caminho para o aprendizado eficiente e dinâmico, com sentido para a vida. O relacionamento professor-aluno e dos alunos entre si no grupo social, são fenômenos de interação psicológica e comunicação social, e como tal possibilitam ao aluno segurança pessoal, ajuda para combater o isolacionismo (solidão) e possibilidades reais para o crescimento espiritual compatível com a orto-práxis (conduta coerente com o evangelho de Cristo).
O contexto histórico brasileiro apresenta-nos um modelo de educação que infelizmente não condiz mais com a ansiedade da atual sociedade emergente, procura-se a razão das coisas, o sentido maior de um projeto de vida. Tuler (2002:79) afirma que “o ensino é um processo de comunicação em que o professor, através de vários procedimentos e informações, orienta e dinamiza a aprendizagem”.
Todavia, a prática pedagógica de nossas escolas bíblicas, ainda repousam eternamente no solo esplêndido da mesmice pedagógica. A ênfase aqui, não é no conteúdo de ensino (Bíblia), mas nas formas de transmiti-lo. Muitos professores consideram-se os únicos donos do saber. Em decorrência, a prática pedagógica, torna-se obsoleta e enfadonha.
Além disso, um bom número de docentes, já não possuem o entusiasmo decorrente do primeiro amor, onde os mesmos evidenciavam uma dedicação constante no estudo da Palavra e ensinavam com vigor e paixão. Estas, dentre outras causas, têm promovido em muitas escolas bíblicas a evasão tão constante de nossos alunos, não mais motivados a estudar a Palavra. Analisemos a postura do professor frente à turma:
O Professor como Guardião do Saber.
A postura evidencia a crença. Por muito tempo se pregou que cabia ao professor transmitir conhecimentos e os alunos como “tabulas rasas que são”, apenas receberiam a informação procurando guardá-la com sobriedade.
A pós-modernidade trouxe consigo a fragmentação do saber, o professor não é o único a possuí-la o aluno também a possui, e, além disso, tem meios de acessá-la, exigindo explicações mais profundas que ultrapassem os conceitos de bem e mal, certo e errado.
A ênfase hoje está nos porquês, o sim ou o não depende da situação. Henrichsen analisa a situação ao afirmar que “na sociedade de hoje as coisas mudaram. A nossa geração relativista questiona os absolutos e obscurece as decisões” (1989:71). Neste contexto cabe ao professor procurar modificar os pensamentos relativistas através das verdades dinâmicas e imutáveis da Palavra de Deus.
Propomos uma aula interativa onde exista troca de informações entre professor-aluno, analisando-se as causas e a postura do ser cristão na sociedade. Quando o professor assume a postura de único conhecedor da verdade, a resistência ao conteúdo é evidente, desta forma não há aprendizado, nem mudança de comportamento.
As barreiras psicológicas surgem numa oposição interior, às vezes, não faladas, mas evidenciadas no semblante do aluno e no seu comportamento. Neste aspecto, Tuler (2006:113) expõe seus argumentos
Há professores que se colocam num pedestal julgando-se “donos do saber”. Tais professores se esquecem que seus alunos, independente da “escolarização”, possuem experiências de vida dignas de serem compartilhadas. O conhecimento que possuem, embora às vezes assistemático, constitui matéria indispensável para o enriquecimento do conteúdo da aula.
As formas de comunicação devem ser consideradas no processo de ensino-aprendizagem, pois são elas quem determinará os resultados do processo. Comunicar-se, em essência é relacionar-se. Se o aluno percebe a valorização do professor em relação a sua pessoa, sente-se aceito e amado, o relacionamento entre ambos flui livremente, em admiração pelo seu mestre.
Todavia, se o professor não aprendeu ainda a arte de comunicar-se com seus alunos, seu ensino deixa a desejar, pois suas palavras não serão recebidas com prazer, e sim com aversão. O aluno necessita sentir-se livre para expor suas idéias, sem medo de censura ou constrangimento intelectual por parte do professor. Nas palavras de Tuler (2006:113) cabe ao professor ser “um comunicador dialogal e não um mero transmissor unilateral! ”
O processo de comunicação ultrapassa a linguagem da fala, evidencia-se no olhar, no sorriso, no enrijecimento do semblante e assim por diante. Hoje se enfatiza a semiótica, termo que deve ser conhecido e observado pelo docente cristão se quiser fazer jus às perguntas da sociedade contemporânea.
A esse respeito Tuler (2006:92) expressa-se como “contato ocular”, ou seja, o olhar nos olhos desenvolve no aluno a consciência do interesse do professor pela pessoa dele, o que proporcionar um interesse maior do aluno pelo estudo.
O Professor que Não é Referencial de Vida.
Quanto a este mister, Cristo deu-nos o Sumo-exemplo. O ensino bíblico só tem autoridade quando seu portador vive o que ensina. Os evangelhos revelam Jesus como o Mestre que, com seu EXEMPLO e autoridade, veio transformar as pessoas de maneira total e absoluta. Ele ensinava “como quem tem autoridade, e não como os escribas” (Mt.7:29).
Barro analisando o filme a Paixão de Cristo,de Mel Gibson, lançado em 2004, afirma que o filme propõe um sentimento de decepção e por fim apresenta-nos um indicativo de esperança ao expressar o exemplo de vida expresso por Jesus Cristo que “durante sua vida, […] mesmo quando isolado, perseguido, mal compreendido, difamado, ainda assim é possível amar, compadecer, perdoar, ser solidário” (2004:70)
O apóstolo Paulo também menciona a necessidade de ser imitador de Cristo, e ele o era. Muitos professores não exercem influência na vida de seus alunos por estarem fora deste padrão bíblico, a saber, quem quiser ensinar deve viver o que ensina, pois receberá mais duro juízo, ou seja, os mestres devem obedecer a Palavra, ou serão julgados por não fazê-lo. Os docentes cristãos são o guia e modelo da aplicabilidade da Palavra, ou pelo menos deveriam sê-lo.
O apóstolo Paulo, relata em Filipensses 1:15 o fato de alguns pregadores pregarem a Cristo por inveja e porfia, o fato é que tais homens são identificados exercendo a função de mestres, porém com motivações erradas e iníquas em si mesmas, estes não devem ser imitados como cristãos, tão pouco devem ser considerados como mestres genuinamente cristãos.
O professor cristão recebe esta vocação do próprio Cristo que há alguns constituiu dentre o seu povo Mestres, e estes devem se esmerar no ensino (Ef.4:11; Rm.12:7). Nas palavras de Tuler (2006:58) esmero significa “integralidade de tempo no ministério de ensino, ou seja, estar com a mente, o coração e a vida totalmente voltados para este mister.”
O “esmerar-se” implica em dedicação constante em busca do conhecimento quer seja de natureza teórica (na leitura bíblica e materiais afins) ou prática (na aplicação da Palavra com discernimento no contexto no qual está inserido).
Considerando que a aprendizagem cristã é um processo contínuo e evolutivo que só acabará no fim dos tempos, e tem por objetivo preparar o aluno a enfrentar a realidade da vida, solucionando seus complexos problemas. O professor pode utilizar-se da dialética do ir e vir, da constante revisão sistemática, consciente de que todo processo de ensino-aprendizagem deve estar susceptível à revisão de conceitos e práticas pré-estabelecidas.
Referindo-se a pessoa ordenada, Engen (1996:203) enfatiza que a mesma “não pode atuar devidamente se não tiver sido chamada, transformada por Deus e a ele aproximada. Sua função principal, contudo, será edificar o corpo de Cristo para que venha a ser o povo missionário” Podemos aplicar os mesmos princípios ao docente cristão, que em essência é uma pessoa chamada por Deus para a obra do ministério e necessita ter intimidade com ele para poder exercer relevância no ensino da igreja eclesiástica.
Relação entre Relacionamento e Aprendizagem
Não existe relacionamento sem comunicação e esta deve ser eficaz, para não ser deturpada na transmissão do conhecimento. No processo de comunicação às vezes ocorrem ruídos que prejudicam e/ou deturpam o sentido originário da conteúdo bíblico. O transmissor deve estar atento a tais ruídos para reenfatizar a verdade e os princípios bíblicos, se necessário for.
Analisando o termo comunicar, ampliamos nossa visão de comunicação, o termo vem do latim comunicare e significa “pôr em comum”, tornar comum. Desta forma, a comunicação visa à transmissão de conceitos e informações que promovam o entendimento entre indivíduos.
No caso em questão, o entendimento deve ultrapassar o assentimento a alguma idéia, personificando-se na vida do aluno, como evidência de seu aprendizado real. Nas palavras de Tiago “se alguém é ouvinte da Palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência,” ( Tg. 1:23,24 )
A comunicação em si é um processo de inter-relação entre os homens, não existe comunicação sem três elementos fundamentais, a saber: emissor, receptor e mensagem. No caso do ensino bíblico o professor conta com um facilitador de aprendizagem, ou seja, o Espírito Santo. Cabe-nos depender d’Ele para que haja aperfeiçoamento no ensino cristão produzindo os frutos desejados.
Detenhamo-nos agora na aprendizagem. Quando podemos dizer que o aluno aprendeu de fato? A evidência da aprendizagem cristã está na modificação radical do comportamento do crente, se não houver mudança no comportamento, não houve aprendizagem real.
O objetivo é capacitar o educando a enfrentar a realidade com discernimento (Hb.4:12; 5:14) e entendimento. Utilizando-se da mente de Cristo (I Co.2:16), o aluno adquirirá novas formas de perceber a realidade que o cerca e a lidar com ela.
Porque Muitos Alunos Não Aprendem a Viver o Cristianismo?
Cabe-nos indagar quanto à aplicabilidade do Ensino Bíblico na cultura brasileira. Seria este incoerente com os nossos dias? Ou estamos dificultando a compreensão, de forma que não pode haver uma aplicação coerente?
A responsabilidade seria do professor ou do aluno? Nesta via de mão dupla, não pode existir exclusivismo, todavia o professor consciente necessitará diagnosticar a realidade de seu alunado, conhecê-los em seus anseios e no repertório de informações que os mesmos já possuem. Analisemos algumas causas:
Uma das causas da não aplicabilidade do ensino bíblico é o autoritarismo do professor, que normalmente quando praticado promove a estagnação. Assim como a postura do conselheiro cristão deve ser de facilitador da compreensão da realidade, a postura do professor cristão também o é. Nas palavras de Engen (1996) “uma contra-cultura forte promove a rejeição”, tese defendida no seu livro Povo Missionário, Povo de Deus, ao enfocar a reação do povo de Deus ao sistema vigente – p.176-183.
Não cabe ao professor impor mudanças de comportamento, princípios ou valores, estes, devem ser uma decisão pessoal do educando, assim como o é do aconselhado. As mudanças devem ser voluntárias e espontâneas, após reflexão sobre determinado conteúdo.
O professor tem o direito de interpretar coerentemente a Palavra de Deus, mas possui o direito de forçar as pessoas a viverem seguindo seus preceitos. A própria Palavra de Deus é um poderoso agente de transformação e mudanças. Além disso, o professor precisa descansar na ação do Espírito Santo!
A postura do professor no ensino deve ser diretiva, analítica e reflexiva. Objetivando mudança de conduta, através da ministração da Palavra. Para isso, o confronto muitas vezes é necessário, mas não a imposição de ações particulares (Col.1:28). O ensino bíblico não deve ser somente informativo, mas transformador levando o educando a estatura e semelhança de Cristo (Ef.4:11-16)
Além do autoritarismo como causa da não aplicabilidade do ensino bíblico por parte do educando, o semblante do professor muitas vezes demonstra falta de aceitação tornando-se barreira psicológica e impedindo o aprendizado. Já dissemos que os gestos por si só falam. Goleman citado por Real (2003:19) orienta que o aconselhando deve “manter serenidade no rosto e nas palavras”.
Na prática pedagógica, ainda que o professor esteja ciente dos desvios de conduta de certos alunos, necessitará demonstrar que os ama e aceita como pessoas cristãs, independentemente de suas falhas comportamentais e/ou de caráter.
Um comportamento de amor por parte do professor revela-se pela voz, pelo vocabulário, pelas frases e pela postura cristocêntrica ao ministrar a aula e ao relacionar-se com a turma em circunstâncias normais da vida, fora do contexto de sala de aula.
Aprendizado Evidenciado na Mudança de Comportamento
O apóstolo Paulo deixa evidente em todas as suas cartas, a influência transformadora que o evangelho produz na vida dos cristãos, a ponto destes serem considerados pela 1ª vez na cidade de Antioquia como cristãos, ou seja, “pequenos cristos” (At.11:26).
A prática pedagógica cristã, impõe-nos o dever de ser constante e sistemática, voltada para as necessidades do ser humano enquanto ser espiritual. Tuler (2006:76) argumenta sobre a qualidade do ensino bíblico, enfatizando que o mesmo deve ser “potente e dinâmico”, ou seja, o ensino deve “modificar o comportamento na maneira de pensar, sentir e agir”.
É importante fazer um resumo esclarecedor do conteúdo, para sintetizá-lo enfocando seus objetivos e facilitar o aprendizado do aluno. Bem como, sugestionar procedimentos práticos de como aplicar as verdades bíblicas no contexto social.
A espiritualidade não se traduz em isolacionismo asceta, mas manifesta-se no meio social eclesiástico ou na sociedade em geral. Evidenciando os frutos na transformação do comportamento do cristão, oriundo do ensino bíblico puro e simples. Poujol (2006:49) abordando o método não diretivo de aconselhamento apresenta um relato sobre como nós funcionamos
O pensamento, consciente ou inconsciente, vem sempre primeiro.
Dos pensamentos decorrem nossos sentimentos.
Dos sentimentos decorrem nossos comportamentos.
As conseqüências de nossos comportamentos são as reações daqueles que nos rodeiam. Essas reações vão voltar sobre nós como um bumerangue, reforçando nosso modo de pensar, o que nos faz voltar ao ponto número 1,
Considerando esta abordagem de aconselhamento, o professor cristão trabalhará partindo do pressuposto de que os pensamentos, só serão transformados pela análise e meditação bíblica, em decorrência sentimentos e atitudes cristãs são evidências de relacionamentos fundamentados nos princípios bíblicos da Palavra de Deus. De acordo com o professor Luiz Alves de Mattos citado por Tuler (2006:146,147) a aprendizagem é um “Processo lento, gradual e complexo de interiorização e de assimilação, no qual a atividade do aluno é fator decisivo. A aprendizagem não é de modo algum, um processo passivo de mera receptividade. È, pelo contrário, um processo eminentemente operativo, em que a atenção, o empenho e o esforço do aluno representam papel central e decisivo. […] Os dados do conhecimento devem ser por ele identificados, analisados, re-elaborados e incorporados na sua contextura mental em estruturas definidas e bem coordenadas.”
Neste contexto o papel do docente é favorecer um ambiente adequado e uma qualidade de ensino bíblico que viabilize este processo, lento, porém dinâmico.
O Ensino Bíblico deve ser Firme e Consistente
O evangelho propõe uma contra-cultura, e esta como enfatizado acima, quando imposta promove rejeição. O pecado trouxe consigo a distorção da visão correta de Deus. Muitos cristãos mesmo freqüentando a igreja ainda possuem idéias distorcidas sobre Deus, alguns ainda são dominados por compulsões imorais, como por exemplo, o uso da pornografia como vício cotidiano, e outros ainda estão arraigados nos pecados da carne, como inveja, contendas… O ensino bíblico firme e consistente é o único meio de mudar esta realidade decadente.
O apóstolo Paulo experimentara em seu ministério de ensino aos romanos que a ministração da Palavra de Deus os libertara da escravidão do pecado (Rm.6:17); em algumas circunstâncias necessitou ser forte em suas posições teológicas contrariando os judaizantes que infiltravam falsas doutrinas em relação ao evangelho de Cristo na igreja da Galácia (Gl.4:8-9); em outros a conduta moral dos cristãos tornara-se reprovável, como no caso de Pedro (Gl.2:11) e dos irmãos de Corinto (I Co.3:1,3 e o cap.5).
Na realidade todo o ministério docente de Paulo esteve permeado por controvérsias e necessidade de confrontos pessoais e eclesiais. A postura do mestre cristão deve ser espelhada pelos mestres bíblicos que tiveram coragem de denunciar e confrontar os erros provenientes da falta do conhecimento de Deus em sua época.
O Ensino Bíblico deve Falar ao Coração Real (2003:115) adverte-nos quanto à “possibilidade do perdão bíblico”, sem o qual não haverá vida saudável em comunidade nem relacionamentos marcados pelo amor fraternal. Nos relacionamentos humanos sempre haverá desentendimentos, razão pela qual a Bíblia nos insta a amar como Deus nos amou. Real (2003:16) argumenta que
Apesar da singularidade e do caráter extraordinário do amor cristão, o mandamento bíblico impõe-nos o dever de praticá-lo. È bom ressaltar, no entanto, que só logrará êxito aquele que vive uma vida controlada pelo Espírito de Deus. É ele que nos capacita. Por seu divino poder, o Senhor nos oferece as condições necessárias à vida e à piedade. São suas grandes e preciosas promessas que nos tornam co-participantes da natureza divina, e é essa capacitação que nos habilita a associar à fé a prática do amor cristão (II Pe.1:3-5, 7)
Toda a Escritura nos insta a considerar o homem integral, ou seja, corpo, alma e espírito devem estar aptos para aplicarem as verdades práticas da fé cristã. Quando o ensino bíblico fala ao coração, percebe-se por inferência o valor que ele tem para a vida cotidiana. A contextualização da Palavra na vida prática é tão importante quanto a sua interpretação correta. Os sentimentos devem ser moldados e aprimorados segundo a Palavra, moldando o caráter cristão à semelhança de Cristo.
O Ensino Bíblico Evidenciará a Benção de Deus na Comunidade Eclesial
A igreja como comunidade de comunhão e de relacionamentos saudáveis evidencia que todas as pessoas, ainda que envolvidas na obra do Senhor e conscientes da necessidade de amar, enfrentarão conflitos transitivos.
Tais conflitos fazem parte do crescimento da Igreja e cabe-nos considerá-los como “normais” e passageiros. Ex. Paulo e Barnabé na discussão a respeito de João Marcos (At.15:39, II Tm.4:11). Percebe-se que Paulo só reconhecera a importância de João Marcos muito tempo depois de sua controvérsia com Barnabé, a negligência do rapaz no início de seu ministério fora transformada em constância na obra.
Real (2003:91) discorre sobre a crescente maturidade do cristão, argumentando que nas relações interpessoais, há momentos de estremecimentos na amizade e estes são necessários, e quando bem resolvidos conduz-nos “a uma aceitação amorosa das diferenças, das dificuldades e das contradições dos outros […] há um interesse verdadeiro no bem-estar do outro, e as trivialidades são menosprezadas”.
O estudo bíblico nos possibilita identificar o erro dos outros, ou seja, dos personagens bíblicos para que não caiamos nas mesmas atitudes prejudiciais ao corpo de Cristo e a nossa vida em particular. Tal postura, conduz-nos a benção de Deus em decorrência da obediência à sua Palavra.
CONCLUSÃO
Ensinar é uma arte. Exige preparo e doação. Considerando que é Cristo quem determina os Mestres, Ele mesmo os aperfeiçoará. O exercício de tal ministério não depende de quem corre, mas de Deus que nos vocaciona e chama, capacitando-nos para a realização da obra.
Não existe ministério de ensino sem relacionamento interpessoal. As características cognitivas, afetivas e espirituais devem ser consideradas no processo de ensino-aprendizagem. Daí a necessidade do docente cristão, estudar a Palavra sem reservas e procurar qualificar-se adequadamente para o exercício do ministério.
Todo professor cristão deve estar preparado para enfrentar os conflitos transitivos de relacionamento na prática docente, bem como ter consciência da presença de cristãos difíceis, que necessitam de um cuidado especial até chegarem à maturidade cristã.
A prática docente no meio eclesiástico exige conduta coerente com a orto-práxis fundamentada nos princípios bíblicos. O professor deve ser um referencial de vida cristã para que o seu ensino produza o efeito desejado na vida dos alunos.
Necessitará também amar menos a sua pele e amar mais a obra de Deus, sem medo de utilizar-se da Palavra para “corrigir, redargüir, ensinar em justiça…” (II Tm.3:16) e não apenas consolar os irmãos. O elemento fundamental da prática docente chama-se amor, este deve ser não apenas ser bem conceitualizado pelo professor, mas evidenciado na prática cotidiana. Afinal, amar é uma “decisão de vontade”, e não meramente um sentimento.
O relacionamento professor-aluno como vimos, torna-se referencial de aprendizagem, na medida em que o aluno confia no seu professor e sente-se valorizado como pessoa. O fruto é desenvolver a auto-confiança na investigação bíblica e crescer no interesse de estudá-la mais profundamente.
Neste processo o professor mostra o caminho a ser seguido, sem todavia apresentar respostas prontas ao aluno, mas, pelo contrário, leva-o à prática da conferência bíblica de conteúdos ministrados. Como os bereanos fizeram nas ministrações do Apóstolo Paulo (At.17:11).
Nas palavras de Aristóteles “o importante é que em todos os nossos atos tenhamos um fim definido que almejamos conseguir… à maneira dos arqueiros que apontam para um alvo bem assinalado”. Além disso, “Não existe um só método que tenha dado o mesmo resultado com todos os alunos. O ensino torna-se mais eficaz quando o professor conhece a natureza das diferenças entre seus alunos” (J.McKeachie Wilbert)
Que Deus nos ajude neste mister…
BIBLIOGRAFIA
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TULER, Marcos. Manual do Professor de Escola Dominical. 7. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2.006.
Campina Grande, 27 de agosto de 2007.
* A autora é diretora acadêmica da
Escola de Ministérios El-Shaddai, Campina Grande –PB.
QUEM REALMENTE MATOU ISABELLA?
Pr. Marcelo Gomes dos Santos
1ª Igreja Batista de Esperança
Todos nós brasileiros ficamos terrivelmente chocados e sem conseguir acreditar na brutalidade, sofrimento e morte da pequena e meiga Isabella. Nosso instinto de justiça é aguçado. “Quem fez isso?”, nós queremos gritar. “Quem cometeu tal atrocidade?”. Toda essa terrível situação nos leva a exigir: “Quem é o responsável?”. Com certeza o culpado deve pagar por isso!”
Quem está por trás disso? O pai? A madrasta? O porteiro do prédio? O pedreiro que teve uma discussão com o pai de Isabella? O homem de preto que segundo o Alexandre Nardoni disse ter visto este misterioso ser no quarto de Isabella? Quem praticou este crime com tamanha eficiência desumana?
Qual a verdade por trás da morte de Isabella? Quem é o verdadeiro culpado? Nosso sentimento de justiça exige um veredicto. Talvez se expusermos o verdadeiro culpado, começaremos a encontrar algum sentido nesse horror sem sentido.
Pois muito bem, já cheguei a um veredicto final, eu sei quem matou a doce Isabella. Quer saber qual a autoria deste macabro crime? Creio que esteja totalmente desejoso de saber quem cometeu este abominável crime. Quem matou Isabella foi a NATUREZA HUMANA!
A queda do homem criou uma crise perpetua. Durará até que o pecado seja eliminado e Cristo reine sobre um mundo redimido e restaurado. Desde que a mulher viu “que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe o fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu”, desde então nos tornamos um contingente enorme de homens e mulheres moral, espiritual e fisicamente enfermos.
O planeta é um enorme e mal cheiroso necrotério, cheio de miséria, cheio de injustiça, cheio de violência, cheio de sangue, cheio de impureza sexual, cheio de dor, cheio de contradições. De quem é a culpa? A culpa é de Deus? A culpa é da mulher? A culpa é do diabo? A culpa é da igreja? A culpa é da sociedade? A culpa é da televisão? A culpa é do governo? De quem é a culpa? A culpa é do próprio homem, do mau uso de sua vontade e de seu poder. Todos somos culpados.
Tanto o bem como o mal se detêm diante da vontade humana e tenta atraí-la ou dobrá-la. No Éden, por exemplo, tanto Deus como a serpente respeitaram a vontade da mulher. Deus não pôs uma cerca eletrificada em torno da árvore da ciência do bem e do mal, nem a serpente enfiou a força de garganta abaixo o fruto proibido na boca da mulher (Gn 3.1-7).
O filósofo romano Sêneca já dizia: “Não há ninguém capaz de saber até que ponto é mau e pecador o coração humano!” A socialite carioca Geogina Guinle, convertida ao evangelho em 1994, reafirma tudo isso quando declara: “Passei 10 anos de minha vida invocando espíritos externos, mas esquecendo de exorcizar os meus fantasmas interiores”.
A natureza humana assume formas cada vez mais ousadas. É a filha que embriaga o pai para se deitar com ele (Gn 19.30-38). É a nora que se veste de prostituta para se deitar com o sogro (Gn 38.12-19). É o irmão que se finge de doente para estuprar a irmã (2 Sm 13.1-14). É o filho que arma uma tenda no eirado para se deitar com as concubinas do pai (2 Sm 16.20-23). É a mulher que se deita com outra mulher e o homem que se deita com outro homem (Rm 1.26-27).
É o homem que se deita com animal e a mulher que se põe perante animal para se contaminar com ele (Lv 18.23). É a população desvairada de Sodoma que cerca a casa de Ló na tentativa de abusar sexualmente da dupla de anjos celestes que ele hospedava (Gn 19.1-12). É a população bissexual de Gibeá que força e abusa de uma mulher casada à noite toda até deixá-la morta (Jz 19.22-30). A permanente insaciabilidade do homem caído obriga-o a inventar novas e “muitas maneiras de fazer mal” (Rm 1.30).
Cito novamente Sêneca quando declara: “Somos todos perversos. O que um reprova no outro, ele o achará em seu próprio peito. Vivemos entre perversos, sendo nós mesmos perversos”.
Só existe uma solução para extinto selvagem: “Convertei-vos àquele de quem tanto vos afastastes” (Is 31.6). Converter-se da maldade, do mau proceder, do mau caminho, de todos os pecados cometidos, da perversidade cometida, das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus e dos ídolos para o Deus vivo e verdadeiro.
Quem matou Jesus Cristo? Foram os judeus? Foram os romanos? Foi à multidão? Foi Pilatos? Foi Herodes? Quem crucificou Jesus? Foram os nossos PECADOS, foi você, fui eu, fomos nós. Quem matou a pequena e frágil Isabella? Fomos nós, foi à natureza humana pecaminosa, distorcida, pervertida, enferma, criminosa e morta em seus delitos e pecado.
Folha em Branco
Pr. Marcelo
“Caindo em si, ele disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai…” (Lc 15.17-18)
“A vida é uma folha de papel em branco, onde cada um de nós tem de escrever suas palavras, sejam uma ou duas… e depois cessar. Então escreva algo de grandioso, mesmo que tenha tempo apenas para uma linha. Que ela seja sublime. Não é crime errar. O crime é mirar baixo!” (Poeta: James Russell Lowell).
Certa feita eu meu encontrava ansioso em uma silenciosa sala de aula tentando responder uma série de questões de uma determinada prova, faltavam alguns poucos minutos para o encerramento, quando levantei o meu braço em direção ao professor e lhe perguntei:
-Professor, pode me dar uma folha em branco? E ele me trouxe a folha até a minha carteira e me perguntou porque queria mais uma folha em branco. Eu então respondi:
-Eu tentei responder as questões, rabisquei tudo, fiz uma confusão danada e queria começar outra vez.
Hoje, lembrando aquele episódio simples, comecei a pensar que nenhum de nós é uma página em branco. Todos nós já fizemos nossos rabiscos. Chamemos de falha, um desacerto, uma derrota, um descuido, um desastre, um lapso, um engano, um azar, uma mancada, um equivoco, uma perda, uma tragédia, uma decepção, tentativas frustradas. Todos nós algum dia já fizemos da vida que é a folha em branco que Deus nos deu, uma confusão medonha.
Temos tão pouco tempo de vida e já cometemos tantas rasuras. Borramos, riscamos, manchamos tantas vezes com escolhas, com decisões, com desejos e motivações erradas a folha em branco de nossas vidas.
Todos nós já fizemos algo de errado, já andamos pelo caminho incerto, já deixamos o importante para traz, todos nós já desobedecemos a Deus.
Você já experimentou derrotas em sua vida? Você já “tropeçou nos cordões de seus próprios sapatos?” Ou você já teve “os cordões dos seus sapatos desamarrados por outros”?
Isto é, você já experimentou em sua vida impedimentos produzidos por outras pessoas, dos quais você se tornou vítima?
Vivemos em um mundo que não admite derrotas. Em nossa sociedade não há espaço para os derrotados. Gostamos dos testemunhos dos bem sucedidos, já empresários que foram à falência, não merecem nossa atenção. Não somos solidários com a esposa solitária cujo casamento acabou. Só admitimos vitórias.
A Palavra de Deus traz uma mensagem oposta, defende o “indefensável”, vai contra a corrente, advoga causas aparentemente perdidas, prega mensagens fora de moda, inverte a tese por outra quase esquecida.
Essa Palavra estende a mão aos derrotados, dá esperança aos feridos, fala ao coração da esposa deprimida, incentiva o homem de meia-idade que analisa o que já passou e o que está para vir.
Portanto, entenda que se você já experimentou as amarguras das derrotas, se você já “foi ao chão” e “beijou a lona”, isto não é motivo de se envergonhar, se abater e de desistir. Você pode com a ajuda de Deus, dar uma reviravolta em sua vida.
Pode parecer que sua vida agora mais parece um borrão, um rascunho de vida, creia que Deus ainda pode pintar quadro muito bonito que ainda vai fazer sentido. O futuro de quem já experimentou grandes derrotas não está selado, definido por estas derrotas.
Você não é uma mulher fracassada porque o casamento acabou. Você não é um homem derrotado porque o casamento acabou. Você não é um pai fracassado porque tem um filho ou uma filha rebelde. Um empresário não é um homem fracassado porque a empresa faliu.
Se você já experimentou o fracasso no passado, não deixe que está derrota o paralise e você fique como “Carolina, na janela, esperando para ver a banda passar”.
Ajá, tome iniciativa, faça alguma coisa, lute, arregace as mangas porque Deus se torna parceiro dos obstinados, daqueles que não baixou a cabeça diante das derrotas. Vá em frente!
O profeta Jeremias (Jr 18.4), nos diz que Deus é o incomparável reparador da vida. Ele toma em suas mãos uma existência despedaçada e molda com os fragmentos outra mais bela do que qualquer que jamais conseguireis fazer, se ela não se tivesse partido.
Quando a sua vida estiver borrada, cheia de rabiscos, nem tudo está perdido. Tenho aprendido a partir da minha própria vida que Jesus pode fazer dos fragmentos da uma vida cheia de ilusões um cidadão para o reino eterno de Deus; Ele pode ajuntar os pedaços de ideais não realizados e contemplar uma existência cheia de bálsamos à humanidade. Ele pode produzir das minhas aparentes desventuras a eterna felicidade.
Por isso não importa qual seja a sua idade, condição financeira, religião. Não importa o que a vida lhe trouxe. Não importa aquilo que deu errado até agora. O que realmente importa é saber se você vai humildemente levantar o “braço” e pedir a Deus que ele reescreva a sua história.
No inicio desta reflexão eu mencionei que levantei o meu braço e pedi ao professor uma nova folha em branco. Então, por que você não levanta agora o seu “braço” e pede a Deus uma “folha em branco”. Passe a sua vida a limpo com Deus. Não se preocupe em tirar 10, ser o melhor. Preocupe-se apenas em ser alvo da maravilhosa graça de Deus em sua vida. Pois ele é poderoso para juntar os cacos da nossa existência e fazer algo maravilhosamente novo e belo para o louvor da Sua glória. Ele é Pai amoroso que está na varanda nas pontas dos pés esperando o filho que fracassou voltar para então jogar-se ao seu pescoço e lhe encher de beijos. E avisa que vai haver festa na fazenda porque o filho estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu.
UMA VEZ HOMOSSEXUAL, SEMPRE HOMOSSEXUAL?
Pr. Marcelo
Depois de um dia bem corrido, cansado, lancei o meu corpo fatigado na cadeira do papai que fica na sala de minha casa. E ali de frente para a televisão assistia a um determinado programa em que a apresentadora entrevistara um homossexual que de forma bem categórica afirmava: “Muitos homossexuais crêem sinceramente que foram destinados geneticamente para serem homossexuais”.
Será verdade que o homossexualismo seja inato? Será verdade, que a orientação sexual simplesmente não pode ser mudada, como alegam alguns psicólogos? Será verdade que o homossexualismo é uma condição imutável?
Troy Perry também de forma peremptória afirma: “Não existe cura para o homossexualismo. Quem afirma o contrário é charlatão, ou está inadequadamente informado e, por alguma de muitas razões possíveis, está tentando iludir a si mesmo ou a seus companheiros.”
Até hoje ainda não se provou que o homossexualismo seja de origem genética ou biológica; e mesmo que alguém um dia prove que ele é inato, isso não o torna normal ou moralmente desejável.
Considero essa prática sexual anômala como sendo um desvio, um vício, uma perversão, um comportamento adquirido. O Dr. McMellen afirma que “é abundante a evidência de que a orientação sexual é aprendida e não herdada, e de que não tem fundamento cientifico a afirmação de alguns psicólogos de que uma vez homossexual, sempre homossexual.”
Há cura, sim! O Dr. Lee Birk, psiquiatra da Universidade de Harvard, aconselhou quartoze homens que desejavam sinceramente deixar o homossexualismo. Dos quartoze, dez abandonaram aquela prática anormal e contraíram “casamentos estáveis e aparentemente felizes.”
O homossexualismo não é normal do ponto de vista divino, porque quando Deus criou o primeiro casal, não criou Adão e Pedro, Roberto e João. Quando Deus criou Adão e Eva, não criou Eva e Maria. Partindo da criação já não é normal. A história de Adão e Eva não fala nada de homossexualismo, só de heterossexualismo. Ela fornece um quadro bem claro – padrão – do propósito de Deus para homens e mulheres. Esse é o único padrão mantido através de toda a Bíblia.
O apóstolo Paulo afirma claramente que um homossexual pode mudar, ao declarar: “Nem imorais, nem idolatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos […] herdarão o reino de Deus. Assim foram alguns de vocês; mas vocês foram lavados, santificados, justificados no nome do Senhor Jesus Cristo. (1Co 6.9-11).
Em um outro programa de televisão dois homens se acariciando, sendo entrevistados por um jornalista, diziam assim: “Que mal tem, se nos amamos? Não estamos matando, nem forçando ninguém. Por que a sociedade tem que interferir em algo que é próprio nosso? Isto é normal, isto não está errado. Pode ter sido errado no passado, para outras gerações, hoje não. Nós somos livres. Isto é opção nossa e queremos que a sociedade nos respeite e nos aceite. Ninguém tem o direito de entrar em nossa vida.”
É verdade, o ser humano é livre, tem o direito de fazer o que quiser. Deus lhe deu esse direito (Dt 30.19). Como cristão, temos que entender que nós não temos o direito de querer impor um sistema de vida a ninguém. Nós não temos o direito de olhar com desprezo para ninguém. Por mais que em nossa opinião as pessoas estejam completamente erradas. Nós devemos amar o ser humano. Por mais pecador que ele seja, por mais errado que ele esteja, por mais imoral que nos pareça, por mais depravado e perverso que possa parecer, nós, como cristãos, temos o dever de amá-los. Isto é verdade.
Agora, se o que eles fazem é normal, esse já é um outro assunto. O ser humano é livre. Como eu sou livre para comer pela orelha. Mas, não é normal. Eu posso beber água pelo nariz. Mas, não é normal. Eu posso querer andar me movimentar de um lugar para o outro, rastejando. Mas, é normal? Mas eu não sou livre? Não tenho o direito? Claro que sim, eu sou livre e você tem de respeitar o que eu faço. Mas, isso não quer dizer que seja normal. É antinatural.
Não há tendência que seja capaz de governar a vida de ninguém. Não há vício capaz de submeter ninguém. Hoje, está provado que filhos de alcoólatras nascem com tendências para o alcoolismo. Isto não quer dizer que aquela pessoa, tem necessariamente que ser um alcoólatra. Pode ter influência, mas não é determinante. Todos nós lutamos, uns com o orgulho, outros com o egoísmo, o ciúme, a mentira, a desonestidade, o cigarro, as drogas, a ira, o alcoolismo, e outros com o homossexualismo.
Todos têm seus pontos fracos. Eu conheço pessoas que se tornaram homossexuais e hoje dizem assim: “Pastor, eu não posso negar que tinha profundas inclinações para o homossexualismo, mas conheci Jesus, aprendi a amar a Jesus, conheci valores espirituais, aprendi a agarrar-me a Jesus e pela graça de Deus, consegui me manter vitorioso até aqui. Não posso negar que as tendências estão dentro de mim. Que me sinto atraído muitas vezes, mas, pela graça de Deus, tenho vencido.”
Nós estamos numa época e País em que falar o que achamos ser de acordo com a Palavra de Deus já é visto como uma forma de racismo religioso. A sociedade está querendo colocar uma tinta dourada em cima da perversão humana. Esta querendo dizer que não há nada de errado, que está tudo certo, que é uma opção como qualquer outra. Toda pessoa tem o direito de viver como quer e a sociedade tem o direito de respeitá-lo e amá-lo como você é. Mas, não é normal! Ninguém pode mudar a natureza, a criação, nem o propósito de vida. Aquilo que Deus disse que não é normal, não passa a ser normal porque a maioria das pessoas quer ou porque o Congresso quer aprovar. O homossexualismo sempre será uma aberração, aos olhos de Deus. O ser humano, porém, sempre será o objeto do amor maravilhoso de Deus.
VIDA PRIVADA X VIDA PÚBLICA
Pr. Marcelo
“A moral privada determina a ação pública” (Chuck Colson).
“Integro é o que você é quando ninguém está olhando; significa que você é completamente honesto” (Charles Swindoll).
Nós estamos vivendo um conceito de cristianismo hoje, que é muito parecido com o conceito do mundo hoje. Vejam o que mundo fez: o mundo dividiu a existência de todos nós em duas áreas – a pública e a privada. Então no mundo moderno, você duas vidas, uma pública e uma privada. Na pública, sua dimensão de vida, você tem alguns limites, porque sua liberdade vai acabar onde começa a do outro. Isso é o que o mundo ensina.
Mas na dimensão privada, você é livre – “Faça o que quiser”. Por exemplo: Uma mulher pode ou não pode abortar? Não, isso ai é uma questão da vida privada dela. Ela pode fazer o que ela quiser. Não é na dimensão pública, é na dimensão privada, ela faz o que ela quiser. Isso é o que o mundo ensina. O sujeito é homossexual; é o seguinte: Você não tem nada a ver com minha vida privada, eu faço o que eu quero.
Na política, o pensamento é o seguinte: o que importa é o programa que o candidato que por em prática. Questões pessoais do candidato não são importantes. O que ele faz em sua vida privada não deve ser discutido em público.
Quem não lembra de um fato ocorrido com um Presidente da República de um país, que foi dançar o carnaval e todo mundo caiu de pedra em cima dele, porque estava com uma prostituta nua. Você sabe como o ilustre Presidente se saiu? – “Ninguém tem nada a ver, que eu Presidente, tire a minha gravata e vá viver a minha vida privada do jeito que eu quero”.
Este conceito de liberdade não existe no cristianismo. Primeiro, não existe vida pública e vida privada no cristianismo. Nossa vida é uma integral. Este conceito não é de Deus. Nós somos inteiros, uma filtra para outra. No cristianismo é o seguinte: Se você não consegue agir publicamente com decência, dificilmente você conseguirá privadamente. E se você não consegue agir com ética, com dignidade na sua vida privada, dificilmente você conseguirá na vida pública. Minha mãe já dizia isso: “costume de casa vai à praça”. Não pode dividir.
Não podemos ter uma agenda oculta. Não podemos encobrir o pecado escondido no coração, pois ele atrasa, provoca embaraço. Encobrir seria não admitir. No livro de provérbios está escrito: “Aquele que encobre as suas transgressões nunca prosperara, mas aquele que confessa e deixa alcança misericórdia”. Sou muito preocupado com o privado, com aquilo que ninguém vê, pois é aquilo que nós somos. Às vezes pensamos que pecado é somente aquelas coisas externas que todo mundo vê, e esquecemos do privado, esquecemos do nosso egoísmo, covardia, engano, mentiras, orgulho, inveja, juízos e muito mais que atrasam o nosso crescimento espiritual. Coisas que nós escondemos que ninguém vê.
“Nada há encoberto que não venha a ser revelado, e oculto que não venha a ser conhecido” (Lc.12:1,2).
Parece-nos que Jesus quis alertar os discípulos para algo bem interessante, Jesus quis abrir os olhos dos discípulos para algo que estava escondido, que ninguém consegue ver com olhos naturais, é como se estivesse algo debaixo do tapete, uma motivação, um desejo oculto, um Eu cego, algo que nós não conseguimos ver. Um Eu secreto, algo escondido.
Muitas vezes os escribas e fariseus, perguntavam a Jesus uma coisa, mas havia uma intenção oculta no coração deles, que era pega-lo em contradição procuravam confundi-lo, sempre tinham uma intenção no coração diferente daquilo que aparentava. Dificilmente eram sinceros. “Vocês me louvam com a boca, mas o coração está longe de mim”. Mandavam os outros fazerem aquilo que nem com um dedo queriam mover algo que nunca tiveram vontade de verdade de fazer, ou mesmo coragem de fazer. Nós nos projetamos nos outros, queremos ver nos outros, para aliviar a nossa consciência cauterizada e enganada. “Limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e intemperança”. “Sois semelhantes aos sepulcros caiados, por foram se mostram-se belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. “Vós exteriormente parece justos aos homens, mas por dentro estão cheios de iniqüidade”. Nós somos o que está no nosso oculto, somos o que está escondido no nosso coração.
Moisés tinha uma ira escondida no coração, que qualquer coisa ele matava, isto o atrasou 40 anos na caminhada, mas quando ele reconheceu, Deus tratou!
Gideão tinha uma covardia misturada com medo escondida dentro do coração. Se escondia atrás de malhar o trigo, para não se envolver com seus irmãos que sofriam com os midianitas. Ele confessou, Deus tratou!
Davi, tinha o pecado do adultério no coração, não podia ver uma barra de saia perto dele. Casou com Mical, depois mal Abigail ficou viúva Davi a trouxe para casa, depois mal Bate-Seba ficou viúva Davi a trouxe para casa. Ele confessou, Deus tratou!
Abraão tinha uma fraqueza de caráter terrível, não conseguia conjugar a verdade por inteiro, sempre estava com meias verdades, não era inteiro no seu coração. Ele confessou, Deus tratou!
Jacó enganou, pai, mãe, irmão, tio, até a Deus ele queria trapacear, um dia confessou: eu sou Jacó, Deus o chamou de príncipe. Ele confessou, Deus tratou!
Judas tinha uma linguagem piedosa que camuflava a sordidez de seu caráter. Muitas vezes por baixo de um olhar meloso se encontra a mais abominável traição. Muitas vezes por baixo de um “verniz de santidade”, quanta mentira se mistura nas corretas afirmações doutrinarias. Quantos defendem a “reta doutrina” e ao mesmo tempo abriga no coração orgulho, indiferença, ódio, obscurantismo e intolerância.
Saul tinha um pecado escondido no seu coração, amava ser independente e amava a glória humana, nunca quis admitir, por isto Deus não pode tratar.
A questão não é se eu tenho pecado, é o que eu vou fazer com eles, encobri-los ou admiti-los.
VOCÊ ESTÁ DEVENDO ALGUMA COISA?
Pr. Weber Firmino Alves
“Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes. De modo que, quanto está em mim estou pronto para anunciar o evangelho também a vós que estais em Roma.” (Rm. 1.14-15)
Graça e paz,
O texto acima citado faz parte da carta do apóstolo Paulo à Igreja de Roma, a qual não havia sido fundada por ele. Nos primórdios, esta Igreja era composta em sua maioria por judeus, mas com o seu crescimento no desenrolar do tempo o número de gentios (não-judeus) superou, de modo que, quando Paulo escreveu, ela era composta em sua maioria por gentios.
O apóstolo Paulo escreve desejoso de ir ter com eles e até diz que havia tentado visitá-los com o propósito de frutificar em Roma também, entretanto fora impedido de assim fazer. E no texto que citamos acima ele diz que sua motivação de visitar os irmãos era pagar uma divida que tinha em Roma, na verdade, não apenas em Roma, mas com gregos, bárbaros, sábios e ignorantes. Existem duas maneiras de se dever algo a alguém:
1.Quando se compra ou se pega algo emprestado de alguém;
2.Quando alguém dá algo para você entregar a outro.
A dívida que Paulo se refere nestes versículos é a segunda, pois Deus lhe havia entregado o Evangelho para que anunciasse a gregos, bárbaros, sábios e ignorantes, enfim a todos quantos ele tivesse oportunidade. E Paulo, como mesmo disse, estava disposto a quitar sua dívida.
Queridos irmãos, a dívida que Paulo tinha todo cristão possui, pois quando entregamos nossa vida a Cristo também recebemos o evangelho de Deus para entregarmos ou pregarmos a todos os homens. Se assim não o fizermos, estejamos, pois conscientes de que o Deus que nos entregou o Evangelho irá prestar contas de nós.
Na prática, entretanto fazemos como na história de um fazendeiro que era desejoso de ajudar os pobres e mendigos, e como não tinha tanta condição financeira para fazê-lo, procurou seus colegas e incentivou cada um a dá um litro de leite por dia. Todos concordaram; e todo dia cada um colocava seu litro no tonel. No entanto quando o fazendeiro foi observar viu que só tinha água no tonel. Então procurou cada um deles e todos confessaram que haviam sido mesquinhos ao colocar água porque pensavam que os outros iriam colocar leite e assim não daria para ninguém perceber.
Muitos de nós temos feito isso quanto à pregação do Evangelho; deixamos para o pastor, a missionária e os outros, pensado que ninguém vai perceber, mas na verdade, acaba quase ninguém cumprindo o seu dever de pagar a divida do evangelho: evangelizar os povos. Portanto mui amados irmãos, cumpramos nosso dever e incentivemos nossos irmãos a fazerem o mesmo porque “QUEM DEVE TEM DE PAGAR!”.
A IMPORTÂNCIA DE UM PASTOR
Pr. Weber Firmino Alves
O forte crescimento da Igreja Evangélica brasileira provocou um fenômeno que tem preocupado muito os pastores: o surgimento do que chamamos “crentes sem igreja e sem pastor”. São aqueles que acham que chegaram a um nível espiritual tal que não mais precisam de ajuda mútua dos irmãos e da liderança pastoral; são aqueles que se debruçam nas programações dos televangelistas e fizeram de sua TV a sua igreja, sendo pastoreados pela TV ou pelo rádio – alguns até pela internet, através dos cultos on-line, sites de edificação espiritual, etc.
O título pastor nas Escrituras Sagradas é um dos títulos atribuídos ao líder da igreja, que tem por função pastorear ou cuidar do rebanho de Deus. O título aparece em referencia a Deus, seja na pessoa do Pai ou do próprio Filho, Jesus Cristo (Salmo 23.1; João 10.11), visto que Ele é o Supremo-Pastor (1Pedro 5.4), a quem os pastores (lideres das igrejas) deverão prestar contas. Aliás, diga-se de passagem, a igreja não pertence a nenhum pastor-local, mas a Deus, pois “…Ele comprou com o seu próprio sangue” (At.21.28c). É por isso que há uma ordem para os pastores-locais: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus…” (At. 21.28a,b).
Outrossim: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe. 5.1-3). Nestes versos o apóstolo Pedro afirma que três características não podem direcionar o trabalho pastoral: coerção (obrigatoriedade), ganância, domínio senhoril. Estes erros devem ser substituídos respectivamente por três qualidades: espontaneidade, boa vontade, padrão de vida.
Os instrumentos básicos de um pastor, conforme descritos no Velho Testamento na referência a Deus, eram: vara e cajado (Sl. 23.4). Um servia para combater animais ferozes e outro para dirigir o rebanho, puxando do caminho errado para o certo. Algumas vezes o pastor poderia até quebrar as perninhas da ovelha para disciplina-la e ensiná-la a não mais se desviar do caminho certo, longe dos lobos ferozes.
Aprouve a Deus, portanto, estabelecer pastores-locais que devem tomar conta do Seu rebanho aqui na terra. Certamente que, se Ele achou por bem fazer isso, nós não temos autoridade para decidir se vamos querer ou não ter uma igreja e um(uns) pastor(es). Por fim, ouçamos o que diz a Palavra de Deus: “Obedecei aos vossos guias (pastores) e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hb. 13.17).
ADORANDO A DEUS EM ESSÊNCIA
Pr. Weber Firmino Alves
A Igreja Evangélica está experimentando um fenômeno que denomino de “Explosão da Música com Arte”. Este fenômeno caracteriza-se pelo surgimento de vários músicos evangélicos, diversos ministérios de louvor e, até mesmo, pela conversão de músicos não cristãos que gravam seus CD’s e transitam entre as igrejas a fim de louvar a Deus e conseguir o sustento próprio. São centenas de gravadoras evangélicas, além de muitos músicos que gravam em estúdios independentes. Há um aspecto muito positivo nesse fenômeno, pois temos demonstrando que nosso crescimento quantitativo como igreja evangélica, também é seguido de um crescimento nas artes, inclusive na arte da música.
Entretanto, à medida que crescem as igrejas, a quantidade de músicos, artistas e gravadoras, crescem também os perigos, como, por exemplo, o de tornar a adoração um elemento da indústria do entretenimento gospel que traz um excelente retorno financeiro para aqueles que a produzem, mas que não revela um louvor que sobe como cheiro agradável ao Senhor Deus. Cresce também o perigo de confundirmos a adoração com a arte musical e, repentinamente, nos acharmos tocando e cantando muito bem, mas distantes da essência da genuína adoração.
É importante saber que Deus não se deixa enganar pelo barulho musical que produzimos, por mais arranjado que esteja. Foi o Senhor quem disse ao povo de Israel quando este vivia impiamente e, ainda assim, promovia reuniões de louvor: “Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembléias solenes não tenho nenhum prazer. […] Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras.” (Amós 5.21,23). Para Deus não importa apenas o “fazer”, mas os “motivos” e o “modo” como se faz.
É muito claro nas Escrituras que Deus tem prazer na adoração do seu povo e o próprio Jesus disse que Deus procura adoradores (João 4.23). Esta procura divina por verdadeiros adoradores sugere ao menos duas coisas:
1) Deus considera importante seus verdadeiros adoradores, pois o ato de procurar subentende a importância do objeto procurado;
2) São poucos os adoradores do Senhor, pois Deus procura a estes entre as multidões que se auto-denominam como adoradores. É certo que Jesus não queria dizer com isso que Deus não conhece os seus, mas simplesmente que, em meio àqueles que iam a Jerusalém (Judeus) ou a Gerisim (Samaritanos), eram poucos os que adoravam a Deus em essência.
A mulher samaritana, com quem Cristo conversava no texto de João 4, preocupava-se, particularmente, com o lugar da adoração, a forma, o modo de fazer. Jesus, porém, ensinou a essência, o significado profundo do que é adorar a Deus. Ele disse: “Deus é Espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (João 4.24). Com isso Jesus queria dizer que a adoração, do ponto de vista de Deus, não se restringe a lugares, pois chegou a hora em que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em Espírito e em Verdade. Isso significa que não há lugares mais sagrados que outros. Não importa o lugar, mas a essência do que se faz. O Senhor da adoração disse que a genuína adoração possui duas características essenciais:
1) Ela é feita em Espírito – Deus é Espírito, disse Jesus. Isso significa que adoração precisa de fé para crer que mesmo sem ver Deus, ele é o alvo receptivo da minha adoração. Esta escrito: “[…] sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe […]” (Hebreus 11.6). O que Jesus disse retira a importância dos lugares e torna a adoração algo que não é feito apenas quando estamos no culto, pois Deus que é Espírito, está em todo lugar ao mesmo tempo, enchendo os céus e a terra e contemplando cada uma de nossas atitudes. Portanto, devemos adorá-lo em todo tempo e não apenas quando tocamos ou cantamos. Além disso, a adoração feita em Espírito também sugere uma dependência do Espírito Santo na condução do adorador até a presença de Deus.
2) Ela é feita em Verdade – Isso significa que é impossível adorar a Deus em essência sem aceitar Jesus Cristo como Salvador e Senhor pessoal, pois Ele é a própria verdade: “[…] Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6). O autor da carta aos Hebreus afirma: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13.15). A essência da genuína adoração tem de passar por Cristo, sendo dirigida a Deus por alguém que já confessa o nome do Senhor. Além disso, a verdade exige o elemento da sinceridade, pois, como já dissemos, Deus não se deixa enganar por palavras e acordes bem elaborados.
Apenas da forma que o mestre da adoração nos ensinou, queridos irmãos, podemos adorar a Deus em essência. Sendo assim, que nossa adoração seja caracterizada por estes elementos a fim de que possamos ser encontrados como verdadeiros adoradores do Senhor.
Que Deus nos abençoe em Cristo.
Pr. Weber Firmino Alves
Esperança-PB – prweberalves@yahoo.com.br
A INTOLERÂNCIA DOS TOLERANTES
Por Weber Firmino Alves
Bel. em Teologia, Licenciando em Letras
Pastor da Congregação da IEC El-Shaddai
em Esperança-PB
weber_re@hotmail.com
Há muitas pessoas que lutam em favor do que denominam de “tolerância”. Jargões como: “cada qual é livre para avaliar sua própria conduta”, são lemas do que chamamos “Movimento da Tolerância”. Este movimento, além de propagar a liberdade irrestrita do ser em fazer o que quer que queira, condena a “intolerância” daqueles que afirmam verdades absolutas, pois, segundo o movimento, cada qual estabelece seus próprios limites, desde que não prejudique o outro. No entanto, o título deste artigo – já utilizado por outro escritor, mostra um outro lado da práxis deste movimento que nem sempre é especificado: a intolerância.
Este movimento rotula de “intolerantes” todos aqueles que afirmam proibições de natureza moral. Os evangélicos – e o Evangelho, donde herdaram o nome, logo são etiquetados de intolerantes por causa de suas proibições quanto ao homossexualismo, às relações extra-conjugais, à bebedice etc. Os tolerantes realizam simpósios, seminários, caminhadas e até ações judiciais na tentativa de condenar a “intolerância” destes que são chamados de absolutistas. Por outro lado, os que se auto-intitulam tolerantes, com “toda ingenuidade”, caem na incoerência de serem intolerantes perante aqueles que eles apelidam de “intolerantes”.
Os chamados Evangélicos são denominados de protestantes porque possuem uma autoridade sobre suas crenças, a Bíblia Sagrada, pela qual protestam contra tudo aquilo que não se coaduna ao seu ensino. A Bíblia brada como um leão, reivindicando ser a Palavra infalível de Deus e mostrando seus efeitos na vida daquele que a aceita. Em virtude disso, nossa atitude não pode ser diferente frente às práticas que a Palavra de Deus diz: “abominação é” (Lv. 18.22).
É incoerência a reivindicação do título de “cristão” (seguidores de Cristo) sem que haja a devida subordinação à autoridade de Jesus que dizia: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt. 22.29).
Existem aspectos na vida, dos quais a decisão é algo puramente pessoal, mas há outros, como os princípios da moralidade que são absolutos em qualquer lugar na face da terra. O homicídio é um destes. Mesmo que em alguns casos o pecado ofusque, ele é errado no Brasil, no Japão, na África e em qualquer outro lugar onde haja o ser humano, afinal de contas, Deus não apenas revelou os Dez Mandamentos ao povo de Israel, mas também escreveu elementos de sua Lei no coração dos homens (Rm. 2.14,15). No caso do homossexualismo, a própria natureza mostra o quanto que ele é antinatural, de forma que, a sua aceitação é a assinatura da extinção da raça humana.
Mesmo assim, os princípios do Evangelho de Cristo não pregam o ódio ao homossexual, ao fornicário ou até mesmo ao homicida. Antes, o ensino de Jesus e seus apóstolos era o amor indiscriminado a todos os homens (Mt. 5.44-46; 22.39; Gl. 5.14). Este amor, porém não pode ser licencioso, a ponto de omitir a verdade ao seu destinatário; ele precisa ser verdadeiro, que aborreça o mal e apegue-se ao bem (Rm. 12.9). Por causa disso, o cristão deve amar o pecador, mas aborrecer o seu pecado, fazendo o mesmo que o seu Senhor faz.
A grande intolerância dos chamados tolerantes é querer forçar os cristãos a se tornarem tolerantes àquilo que é pecaminoso e mal, e perante isso os cristãos não podem se dobrar porque, dessa forma, abandonariam os princípios do Senhor Jesus Cristo em nome de uma “tolerância” que, na verdade, seria melhor denominada de licenciosidade.
Se possuir tolerância significa respeitar a decisão do outro, embora sabendo que esteja errada, os crentes são convocados a tê-la; mas, se ser tolerante significa aceitar e aplaudir os erros e más decisões das pessoas, os cristãos não o são, porque o próprio Cristo não o foi. Portanto, nenhum crente deve se envergonhar de anunciar sua fé na Palavra de Deus, pois enquanto isso, muitos estão bradando em favor da aceitação deliberado do pecado.
DOUTRINAS BÍBLICAS: O ALICERCE DA ÉTICA CRISTÃ
Pr. Weber Firmino Alves
Bel. em Teologia, Licenciando em Letras
Pastor da Congregação da IEC El-Shaddai em Esperança-PB
prweberalves@yahoo.com.br
weber_re@hotmail.com
Muitas pessoas não crentes louvam os cristãos pela sua ética, isto é, a sua conduta em meio a um mudo corrupto e promíscuo. Dizem elas que a atitude de não fumar, não se embriagar, não mentir, não se prostituir ou se entregar aos bacanais de nosso tempo é uma conduta que merece louvor, pois preza pela valorização do próprio ser humano, a saúde do indivíduo, e a devida estima para com a família. Muitas destas pessoas buscam até experimentar o mesmo estereótipo em suas vidas e famílias, mas não têm qualquer afeição pelas doutrinas cristãs. Afirmam elas que a conduta pura dos crentes deve ser apreciada, mas sua fé no Deus único que subsiste em três pessoas distintas, na volta de Jesus, na ressurreição, no céu etc. não merece nosso crédito, pois são concepções míticas do passado.
No século XIX surgiu a chamada Teologia Secular, um sistema teológico que se propunha analisar Deus e sua obra de modo bem profano. G. H. Holyoake (1818-1906) foi o primeiro a usar o termo “secular” significando a aversão a qualquer crença espiritual ou sobrenatural com o objetivo de promover melhorias na condição do homem através das instituições humanas, da razão, da ciência, sem fazer alusão ao elemento transcendental. Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) foi um teólogo alemão que tinha opiniões semelhantes à da Teologia Secular.
Ao perceber o avanço do nazismo com todas as suas conquistas, Bonhoeffer cogitou a possibilidade do cristianismo não sobreviver num mundo secular e sem-religião; então, em nome da “boa intenção”, ele propôs um cristianismo sem-religião, adaptado a este século. Isso exige que abandonemos aquilo que cremos como ensino do Senhor e preservemos apenas os princípios éticos do cristianismo. Mas será que podemos fazer isso? Será que Deus aprova tal adaptação? Será que a ética cristã está desassociada das doutrinas cristãs, a ponto de abandonarmos uma e nos apegarmos à outra? Deus afirma que não!
A ética cristã exige a crença na doutrina cristã. Já no Antigo Testamento, depois de uma série de proibições, incluindo o homossexualismo, sexo com animais (zoofilia) etc., Deus deixa claro ao povo: “Porém vós guardareis os meus estatutos…” (Lv. 18.26). As proibições só tinham sentido porque eram estatutos de Deus para seu povo e porque Ele era o Senhor do povo: “…eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv. 18.30). A ética do crente fundamenta-se na crença num Deus que existe e estabelece princípios para o homem. Até a justiça nos pesos e medidas do povo era ensinada sob o alicerce de que Deus era o Senhor e que, portanto o seu povo tinha a ordem de cumprir os seus mandamentos (Lv. 19.35-37).
O repetitivo mandamento “Sede Santos” encontra seu cumprimento, é claro, na execução dos preceitos que Deus estabeleceu e revelou na sua Palavra. Em outras palavras, o povo seria santo quando cumprisse os mandamentos de Deus. A ética desta santidade, todavia, tem por alicerce o fato de que aquele que ordenou é Santo, por isso Ele diz: “porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv. 19.2; 20.7; 1Pe. 1.16).
No Sermão da Montanha Jesus ensinou seus discípulos a amar, abençoar e fazer bem a seus próprios inimigos, isso porque, dessa forma, refletiriam a bondade de Deus Pai e pareceriam com Ele como filhos (Mt. 5.43-48), o qual, disse Jesus, “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (v. 45). Se você não crer que o nascimento do sol e a dádiva da chuva são expressões da bondade de Deus a homens imerecedores, também não esperarei que você exerça bondade e misericórdia sobre seu próximo. Perceba que a atitude dos cristãos está ligada com a doutrina da ação e do Ser de Deus. Conclui Jesus: “Sede vós, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (v.48). Até mesmo a vingança é repudiada entre os fiéis porque Deus reivindica que esta é uma prerrogativa exclusiva d’Ele, e que Ele recompensa e vinga os homens (Rm. 12.19).
Qualquer outro ensino ético da Bíblia é fundamentado na certeza de que são ordens do Senhor e que devem ser obedecidas, às vezes, fazendo referência à divindade de Cristo, à sua volta, ao julgamento final, ao novo nascimento, à Trindade etc. Por causa disso, não podemos nos secularizar, rejeitando as doutrinas bíblicas e apenas incentivar atitudes corretas, esperando mudanças nos homens. Isso seria, no mínimo, subestimar a natureza caída do homem.
Podemos até encontrar, vez ou outra, homens ou mulheres que, mesmo não crendo nas doutrinas bíblicas, experimentem uma moral extremamente louvável à vista dos homens, inclusive, muitas vezes, mais perceptível que em alguns que afirmam ser cristãos; tal moralidade, embora não salve ninguém, é um reflexo da revelação que Deus faz de si na natureza, na história e na consciência do homem (Sl. 19.1; Rm. 1.18-20); ainda que ele não creia no que Deus diz de si, a lei moral de Deus impregnada na sua consciência diz que ele não deve fazer determinadas coisas (Rm. 2.14,15). De outro modo, se este moralista que rejeita Deus cogitar com toda sinceridade o motivo de sua moralidade, não encontrará uma absoluta razão de ser apenas na lei dos homens ou na vida de seus semelhantes. Ao fim de uma sincera avaliação interior, só restará um real e justo motivo, para que não façamos determinas coisas, o Deus Justo que exige justiça, e que recompensa ou retribui às suas criaturas.
RESPOSTA AOS POSICIONAMENTOS ATEÍSTAS DE MICHEL ONFRAY
EM ENTREVISTA CONCEDIDA À VEJA
Por Weber Firmino Alves
Bel. em Teologia, Licenciando em Letras
Pastor da Congregação da IEC El-Shaddai
em Esperança-PB
prweberalves@yahoo.com.br
Conta-se que certo cientista, apegado a seus pressupostos ateísticos aferrou para si o objetivo de provar empiricamente que a crença em Deus era uma influência da sociedade sobre o indivíduo, ou como diz Onfray na sua entrevista, “não há nada no cérebro além daquilo que é posto nele” e que “Deus e a religião são invenções puramente humanas”.
O curioso cientista resolveu então educar uma criança recém-nascida em um ambiente totalmente livre da idéia de divindade, um lugar onde ela seria ensinada, mas nunca ouviria sequer o nome “Deus”. Será que existe este lugar? Ele resolveu então, isolá-la de ambientes nos quais recebesse influência de outros homens. Aquela seria a pesquisa prática de sua vida. Os anos se passaram e a criança cresceu e ainda no ápice da adolescência nunca ouviu falar de qualquer tipo de deus. Porém, em dada fase o pesquisador observou que havia um horário, no qual o jovem saía assiduamente. Resolvendo segui-lo às ocultas o cientista o encontrou num alto monte prostrado, clamando sobre uma pedra aos céus: – “Oh Grande Criador! Tu que fizeste todas as coisas, revela-te a mim porque eu desejo te conhecer!”.
Diferente do que diz Onfray, a idéia da divindade não é uma criação do homem, mas pressupõe a existência de um Deus. A idéia de Deus, tal como a idéia de tempo, espaço, número, causa e efeito, bem e mal, é uma verdade primária ou fundamental, visto que se caracteriza por universalidade, necessidade e auto-evidência (AGUIAR, 1999, p. 46). O conceito de um criador é presente em todo o universo, é necessário para compreendermos alguns fatos fundamentais da vida, e também brota naturalmente no íntimo do homem, independendo, muitas vezes, de argumentos iniciais. Onfray afirma na sua entrevista que “a necessidade de Deus é cultivada culturalmente”, mas uma observação acurada da história comprova que não há um povo, cultura ou etnia, no qual a idéia da divindade – mediante o politeísmo ou o monoteísmo, esteja completamente ausente.
Na sua entrevista concedida à revista Veja, Michel Onfray nega a existência de Deus em nome do que ele chama da liberdade do homem. No entanto, conforme demonstrado acima pelo Rev. Claudionor, mesmo com a suposta inexistência de Deus, a liberdade humana “não é assim tão livre”, visto que a vontade do indivíduo não é neutra, como parece afirmar “inocentemente” Onfray. Segundo Onfray, a liberdade humana é restringida de dois modos:
Pelas restrições preceptivas de Deus, pois os religiosos “odeiam o corpo, os desejos, a sexualidade…”. Onfray está fazendo referência certamente aos preceitos bíblicos que proíbem práticas como homossexualismo, incastidade etc. Entretanto, sob este mesmo ponto de vista, a liberdade humana também seria incompatível com a idéia de casamento e amor, pois muitas vezes homens casados – até mesmo ateus, abstêm-se de determinadas práticas (como o adultério) em nome do amor que sentem pelo cônjuge. Desta forma, um impulso que sobrevêm é subjugado pelo amor, e sua liberdade também é restringida. Se a liberdade humana é incompatível com a existência de Deus, também o é com a existência de qualquer outro ser, pois muitas vezes a liberdade do homem é restringida pela existência do próximo.
Pela providência de Deus que, conforme Onfray, é incompatível com a liberdade humana. A Bíblia Sagrada, estabelece de fato que há um Deus que governa o mundo e tudo o que nele há. Entretanto ela deixa claro que o indivíduo é responsável por suas próprias ações, e que o ponto de partida para suas ações não pode ser o plano de Deus, já que o homem não o conhece. Berkhof (2001, p.101) diz: “Os decretos divinos não são dirigidos aos homens como uma regra de ação, e não podem constituir uma regra assim, visto que o conteúdo deles só se torna conhecido pela sua realização, e depois desta”. A nossa experiência prova que colhemos dadas conseqüências porque nós mesmos tomamos determinadas atitudes, sem sentir qualquer coerção.
Como destacou, em forma de indagação, o Rev. Claudionor, a abordagem de Onfray é extremamente preconceituosa. Quando, por exemplo, ele afirma que os questionamentos à religiosidade feitos pelo homem levam, invariavelmente, à conclusão chegada por ele, a saber, que Deus não existe. A isso ele chama de “razão, com R maiúsculo”, cujo uso “é a missão […] de todo filósofo que se dê ao respeito” (p.14). Isso é preconceito puro! O que se dizer acerca de filósofos reconhecidos mundialmente que acreditam em Deus?
Aristóteles e Aquino já haviam afirmado a existência de “Deus” a partir do argumento da causa impulsora.
René Descartes, filosofo racionalista – considerado por Jostein Garder (2004, p.253) como o fundador da filosofia dos novos tempos e primeiro construtor de um contemporâneo e coerente sistema filosófico, afirmava a existência de Deus a partir do que se chama “argumento teleológico”, isto é, o homem, que como ser pensante existe, tem a idéia de um ser perfeito, o qual, para de fato possuir os atributos da perfeição precisa existir. “…a noção de um ser perfeito tinha de vir, naturalmente, de outro ser perfeito […] um ser perfeito não seria perfeito se não existisse”. Descartes dizia, portanto, que a idéia de Deus é inata ao homem, tal “como a marca que o artista coloca em sua obra” (DESCARTES apud GAARDER, 2004, p. 258).
O filósofo empirista Berkeley dizia que “só outro espírito pode ser a causa das idéias que formam nosso mundo material” e que “tudo vinha do espírito ‘onipresente, por meio do qual tudo existe’” (GAARDER, 2004, p. 304). Ele estava pensando em Deus.
O filósofo protestante Kant, sob outro ponto de vista, afirmou a existência de Deus. Ele realmente acreditava que isso era impossível se provar pela razão, mas apenas pela fé, o que chamava de “postulado prático”. Kant dizia: “é moralmente necessário supor a existência de Deus” (KANT apud GAARDER, p.354).
Com todas as convicções que tenhamos diferentes em alguns pontos defendidos por estes filósofos – e nós mesmos temos alguns, é extremamente prepotente a afirmação de que eles não se deram respeito como filósofos ou que sua razão, neste ponto de vista, não possuía “R” maiúsculo, inclusive porque os próprios Aristótoles, Aquino e Descartes estabeleceram argumentos racionais para provar a existência de Deus pela razão pura.
A prepotência e o preconceito definitivamente não desaparecem das idéias de Onfray quando ainda afirma que “a idéia da criação divina é uma espécie de doença infantil do pensamento reflexivo”, e que “a crença em Deus só serve, justamente, para as crianças” (p.15), comparando inclusive com as lendas de Papai Noel, lendas folclóricas e contos de carochinha. É fato indubitável que o que leva alguém (seja ele um leigo, filósofo ou religioso) a acreditar em Deus é totalmente diferente daquilo que leva uma criança a acreditar nestas lendas.
Como se não bastasse tudo isso, as contradições dos textos bíblicos apresentados pelo “grande” filósofo mais lido na França só existem na cabeça do próprio Onfray. O sexto mandamento, que diz “Não Matarás” (Ex. 20.13), faz parte do que costumamos chamar de aspecto moral da Lei de Deus e era dirigido a todos os homens como “os princípios morais eternos de Deus para suas criaturas morais”. A lei de Êxodo 21.15, por outro lado, faz parte do aspecto civil da Lei que autoriza, não o indivíduo, mas o Estado de Israel como nação a exercer o direito à pena capital pela quebra de um mandamento de Deus: honrar pai e mãe. Hilário mesmo é a interpretação literalista e bélica que Onfray faz à seguinte frase de Jesus: “…não vim trazer paz, mas espada” (Mt. 10.34). É claro no contexto que Jesus não estava ordenando aos discípulos que se armassem com espada e se preparassem para a guerra, mas estava falando sobre as conseqüentes dificuldades que seus seguidores enfrentariam dentro de sua própria casa. Esta interpretação fica esclarecida pelos próprios versos seguintes (vv.35-39).
Por fim, Onfray subestima demasiadamente a natureza humana, afirmando que a filosofia disponibiliza ao homem “a apreensão do que é o mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens, sem que seja preciso recorrer a Deus…” (p.15). Esta esperança, não é muito diferente daquela que possui os homens na virada do séc. XIX para o séc. XX. A chegada do iluminismo trouxe aos homens a esperança que os problemas de moralidade, educação, saúde etc. seriam resolvidos com a razão e a ciência. A humanidade estava diante de um grande progresso, diziam eles, pois tinha em mãos a ciência que traria solução para os mais diversos problemas experimentados pelo homem ao longo de sua existência. A interpretação dialética da história proposta por Hegel e a teoria darwinista foi logo aplicada à utopia do progresso e os homens esperavam melhoras. A proposta de Comte era sair da era teológica, presente nas sociedades primitivas e avançar para a era positiva, fundamentada na razão e na ciência.
Logo esta falsa esperança caiu por terra, diante das duas grandes guerras mundiais que o homem promoveu no começo do último século, inclusive, fazendo uso da própria razão e ciência. O problema moral do homem não é resolvido pela ciência ou pela filosofia, mas apenas por Deus, pois ele é o Criador e o Legislador da humanidade. A Bíblia não alimenta esta esperança utópica no homem: “[…] não há justo, nem um sequer”. Por mais que a filosofia ajude, ela sozinha nunca resolverá o problema moral do homem, pois o homem é pecador. A história revela a quantidade de filósofos extremamente imorais e que chegaram até mesmo a dar cabo de suas próprias vidas.
Sinceramente, não se pode entender o que leva alguém a procurar forças onde não se tem para provar que algo que não existe “realmente não existe”. Se Deus realmente não existe, então porque tanto esforço para provar que Ele não existe? E se é assim tão simples, porque a turma ateísta de Onfray, incluindo filósofos do passado como o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), não conseguiu definitivamente provar e convencer a humanidade que Deus não existe? Certamente a Escritura tem toda razão em dizer: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (Sl. 14.1).
BIBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Trad. João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Atualizada. São Paulo: Cultura Cristã e SBB, 1999.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, 720 p.
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: Romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 2004
LANDERS, John. Teologia Contemporânea. São Paulo: Juerp.
SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A.D. Santos Editora, 1999, 490 p.